Caminhos no meio de marroquinos

Marrocos, 14 Junho 2011
Dia 4 # Essaouira – Marraquexe – Ouazazate


Terra e mais terra. Estrada e mais estrada. Rodas, movimento, calor. Curvas, muitas curvas. O quarto dia foi passado inteiramente em viagem de um lado para o outro. Ninguém merece!
Estava previsto no nosso roteiro de viagem ficar mais um dia em Essaouira mas estava um frio que não se podia e eu queria mais era viver os meus 40 graus à sombra! Foram 3 horas de volta a Marraquexe e mais 5 até Ouazazate. Parece fácil, um dia tranquilo, dormir no autocarro… pois, mas não foi! Bora lá subir uma montanha gigante em curvas e em curvas fazer ultrapassagens de dois em dois minutos para fazer destes turistas pessoas mais felizes. A sério? Um autocarro enorme a fazer ultrapassagens numa única faixa de rodagem, numa curva e a subir?!                          

E se ficasse por aqui estava eu contente da vida. A paragem para esticar as pernas foi numa aldeia perdida no tempo e no meio da montanha. Os aldeões juntam-se todos quando o autocarro pára. Mas… surpresa… até tem “estação de serviço”. Eu explico: tem um café que serve comida e chá e uma casinha pequena para a venda de recordações. É óbvio que fomos convidados a entrar e a pernoitar e a viver ali! Conversa puxa conversa e o senhor da loja disse-nos que tinha um irmão a viver na cidade para a qual íamos que fazia excursões ao deserto…nós até gostávamos de ir.

Quando saí daquela pequena aldeia senti que algumas daquelas pessoas eram mesmo humildes e passavam dificuldades. No fundo, só conhecem aquilo. Vivem ali, limitam-se a fazer trabalhos manuais para vender. Colhem pedras das montanhas que depois limpam e vendem. Vivem ali à espera que um turista passe. Dizem que não lhes falta nada, que viver ali é tranquilo. Acredito que sejam boas pessoas. Pedem para entrarmos, para vermos. Mostram. Explicam. E depois não compramos nada? Acabámos por comprar pequenas coisas e fizemos uma pessoa feliz.

Quando chegamos a Ouazazate, imediamente assim que saímos do autocarro estavam duas pessoas à nossa espera, dizendo que nos levavam ao hotel no seu jipe. Já dentro do carro dos senhores exclamei “Lá estamos nós a seguir desconhecidos, outra vez. Dentro do carro deles e fechados!” 
Não nos levaram ao hotel. Levaram-nos à rua onde ficava a sua agência que organiza excursões ao deserto porque sabiam que gostávamos de ir. Como? Um dos senhores era o tal irmão do outro querido de quem ficámos amigos, na aldeia lá atrás. SÓ queriam que entrássemos, que bebêssemos chá e que víssemos o que tinham para oferecer. Pois, sim. O combinado era irmos para o hotel não para uma loja comprar pacotes de visitas guiadas ao deserto do Saara. Não entramos e eles ficaram fulos da vida. Queriam saber o hotel onde íamos ficar, queriam ir buscar-nos. Fizeram-nos prometer que os visitávamos a uma certa hora e ficariam à espera. Ainda não sabíamos o valor da promessa para o povo marroquino portanto… faltámos ao encontro.
O hotel era óptimo e depois de verificarmos que não estávamos a ser seguidos fomos jantar. Ouazazate é uma cidade pequena, com um clima muito mais quente do que nas cidades anteriores. É acolhedora, tem menos comércio do que o normal e menos turistas também.
                                                                         
Encontrámos um restaurante e nele conhecemos dois músicos que sobre Portugal não mencionaram o futebol mas sim… Amália Rodrigues. Não eram marroquinos. Jantamos ao som de uma guitarra e aproveitamos para pedir uma informação. Resultado? Perguntámos onde poderíamos ir a um bar típico marroquino, como vemos aqui em Lisboa. Mas lá não esse hábito de nos sentarmos nuns sofás e beber chás!. Para eles isso faz-se em casa. Às tantas lá estávamos nós com os tais senhores num bar, onde um deles costumava tocar, e tivemos uma noite descontraída a falar com eles, a conhecê-los. Nós a querer saber da vida em Marrocos e eles a querem saber da vida em Portugal. Esta foi uma das situações que nos correu bem. Já sabíamos que não íamos poder escapar ao facto de eles nos acompanharem a qualquer sítio no entanto, foram autênticos guias. Uma forma de percebermos que há pessoas e pessoas... e estas fizeram-nos crer que há boa gente.

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