Quando o telefone não toca...

Sou um bocado antiquada nesta coisa das tecnologias. Sou sempre aquela que tem o telemóvel mais velho de sempre. Só preciso de mandar sms e fazer chamadas. Antigamente o telemóvel para mim só existia porque era um 3310 e dava para jogar ao "jogo da cobra" e trocar de bateria com os amigos... "só tenho um pauzinho de bateria, emprestas-me a tua?" (a frase mais ouvida de sempre, porque toda a gente tinha o mesmo telemóvel e toda a gente emprestava a toda a gente.) Lembro-me de meter os telemóveis da turma toda lado a lado e construir uma fila gigante e a vivíamos bem assim...crescemos felizes!

Mas depois vieram as capas, para mudar de cor, depois vieram os telemóveis cada vez mais pequenos (e eu sempre que perdia ou estragava o meu, comprava outro 3310), depois vieram os ecrãs com cores, as músicas e as câmaras fotográficas e a internet e 3G e 4G e o Iphone... e então aí eu hibernei!

Quando o meu namorado comprou o seu Iphone eu disse "Para quê?" E ainda hoje ele me lembra disso quando eu pergunto "Posso ir ao facebook?". Entretanto, dei por mim a querer ter coisas giras num Iphone que não era meu...enquanto continuava com a minha relíquia. Tinha câmara (uau!) e até tinha internet (onde nunca me atrevi a ir porque o ecrã era tão pequeno que tinha que por os óculos para pesquisar no google!) Passado alguns anos com esta pérola do deserto, eis que ele bloqueia quando tento apagar sms, não me permite falar porque ninguém me ouve, e por último decide não me deixar aceder ao menu...declarei a hora da morte, com alguma dificuldade, e fiz o meu luto de (poucos) dias até comprar outro, ontem! 

Agora o mundo é lugar novo e tudo gira à volta de um ecrã touch (demoro horas para escrever uma frase porque os meus dedos não cabem nas teclas virtuais, mas isso são detalhes!) onde tenho que "passar o dedo para desbloquear" (modernices) tenho Facebook e Mail (sim, já sei que toda a gente tinha, menos eu, mas posso ser feliz?) e Instagram (a invenção da década) e GPS e outras coisas tão "xpto" quem nem lembro! 

Enfim, as prioridades da vida mudam e agora que sei o que são "apps" será que posso "sacar" uma que frite ovos, outra que me faça a cama e outra para levantar dinheiro?

A evolução da (minha) espécie!


Um mercado de todos para todos


Há uma rua em Lisboa que mistura cores com cheiros e música. Há uma feira que junta flores com roupas e bijutarias. E livros com bolachas e doces com brinquedos. Esta feira, nesta rua, é o LxMarket, no Lxfactory, para vender e comprar a preços baixos!

"O LxMarket tem orgulho em ser português, mas as culturas misturam-se e o mundo é global, por isso a nossa abertura é total para quem tenha ideias criativas, originais e interessantes que nos possam ajudar a fazer um mercado de qualidade e diferente dos que já existem", quem o diz é Teresa Lacerda, da organização do projecto. E a diferença é que aqui toda a gente pode ser feirante. Quem tiver uma ideia de produtos para vender pode montar a sua banca nesta rua, através de inscrição prévia. É uma ideia para as pessoas comuns que podem pegar no que têm em casa, que já não querem, e vender. É uma ideia também para quem tem jeito para alguma arte a poder mostrar sob o lema deste mercado, "2ª mão de primeira", um mercado de todos e para todos.

O LxMarket nasceu pela mão de três sócios, sem ajudas de custo ou apoios institucionais. Tudo começou com um mercado em segunda mão, mas em ponto pequeno. O LxFactory gostou da ideia e fez o convite para a desenvolver. Hoje é um projecto de pessoas profissionais, dinâmicas e positivas que trabalham com entusiasmo para pôr o evento de pé, domingo após domingo. Teresa Lacerda é uma dessas pessoas e deixa o convite para que todos visitem e ajudem "a criar um local e ambiente único, onde para além de se trocarem coisas por dinheiro, também se trocam afectos e emoções".

Além das bancas e dos espectáculos de dança para animar a tarde, há também uma componente de solidariedade em tudo isto. "Ser solidário tornou-se uma responsabilidade de todos nós, já não é apenas aquele grupo de pessoas ou empresa que o faz. Como cidadãos e empresas temos de estar atentos ao que se passa à nossa volta e ajudarmos quem mais necessita", por isso há sempre uma instituição de solidariedade presente aos domingos. "Tem resultado muito bem e as instituições pedem para voltar", explicou a responsável.

"É um sítio onde se fazem boas compras, se divertem e é transversal em termos de idades. É sem dúvida um bom programa de domingo". As pessoas visitam este mercado pela curiosidade, para passear, mas acabam por descobrir coisas que não estão habituadas a ver, coisas alternativas, num espaço meio trendy ao estilo vintage, mas muito abrangente. E já que a crise está para ficar e parece que o calor também, para quê ir para um centro comercial fechado e onde os saldos já nem são o que eram? O mercado em segunda mão, com artigos artesanais e feitos à mão começa a fazer sentido. "Cada vez mais é a escolha de muita gente, por necessidade mas também por mudança de atitude".

Sonho de uma noite de verão...

Queria tanto uma destas para as minhas noites de verão. E para as tardes. E manhãs. Com a almofadinha e tudo! Oh, sou feliz com tão pouco!

Bom dia # 1

Sexta-feira!
Será um dia difícil? Que importa isso?!
Tenho um fim-de-semana inteiro pela frente para fazer tudo o que me apetecer!
Sol, you're welcome.

As queixas!


Se está frio é porque está frio. Se está calor é porque está calor. Se está muito calor é porque está muito calor. As pessoas queixam-se sempre. Ah está bem, calor sim, mas isto também é demais, dizem por ai. Eu cá gosto de calor para andar de sandálias e vestidos e tudo a que temos direito! É melhor ainda quando se pode dar um mergulho, mas também não se pode ter tudo (embora eu ache que se devia poder!) É verão ora bolas, tem 'masé' de estar calor.

Agora uma coisa bem diferente são as fotos que andam pelo facebook. Fotos com 30º à noite dentro do carro. Fotos com 40º à sombra dentro do carro. Basicamente, sim, é isso, fotos dos graus dentro do carro! É disso que eu me queixo.Peço, por favor, mais respeito! O meu carro não mostra os graus! "E até é relativamente novo. Será que devia ter pago por isso, como extra? Pronto, não interessa, tenham piedade e não façam de mim uma pessoa invejosa. :)


A gaveta

" De facto, só abro a gaveta quando vou à procura de uma imagem especifica que possa ter uma utilidade concreta e actual, evitando cuidadosamente despertar essa serpente venenosa que hiberna no fundo da gaveta a que chamamos nostalgia. Dizem que as fotografias não mentem, mas essa é a maior mentira que já ouvi"
                                                                                                                                                             (Miguel Sousa Tavares, "No teu deserto")

Já abriram uma gaveta, alguma vez, e sem querer viram aquela imagem? E roçaram naquele sentimento de ausência? Por exemplo, estamos aqui lá lá lá e vai na volta e coiso precisamos de uma coisa que deve estar, só pode estar, naquela gaveta, daquele armário, lá ao fundo, mesmo lá ao fundo (se forem direitinhos ao sítio onde está a coisa perdida...não me digam). E pimba, aquele objecto oferecido por não sei quem (tão fofo!), aquela foto tirada não sei onde (que linda!), aquela carta (sou do tempo das cartas, escrevi muitas!) e ficamos com o objecto na mão, a olhar para a foto, a ler a carta. E rimos ou choramos, mas acima de tudo lembramo-nos, porque houve um tempo em que teve alguma importância, algum significado e embora agora até já nos passe ao lado (porque é que eu guardei isto?) foi, um dia, importante.

Há pedaços das nossas vidas guardados em gavetas e fomos nós que os mandamos para lá, para os guardar! Outras vezes, os objectos nem querem dizer nada, mas deixamos que lá fiquem a marinar ou a ganhar teias só porque não queremos deitar fora, porque um dia, distante, pode ser preciso. E nunca é. E depois aquela gaveta acaba por ser constituída de coisas inúteis, passa a ser "a gaveta da porcaria" onde cabe sempre mais qualquer coisa, mas que está tão cheia que já nem abre. Mas onde é que está aquilo? De certeza que está naquela gaveta. Está lá sempre tudo.

Sons portugueses

Há mensagens que sabem muito bem assim, em português!

Sorte Grande - João Só e Lúcia Moniz
Para Nunca Mais (Acordar) - Darko e Sandra Celas
Insónia - Filipe Pinto

Há fins-de-semana que...

 Há fins-de-semana que passam devagar para saborear todos os momentos, que fazem o descanso ser real, onde sentimos que...estamos de fim-de-semana. Depois há aqueles que passam a correr e mal chega ao domingo já andamos chateados por 'amanhã' ser segunda. Hoje numa revista, não me lembro qual, dizia que os sintomas de depressão pré-segunda-feira começam por volta das 16h23 de domingo. Os meus começam mais lá para as 19h26. E portanto, este fim-de-semana foi mesmo dos que passam e nem os vemos... já lá vai e nem me lembro. Há fins-de-semana que não têm nada para contar. Simplesmente passam.

Framboesa, pêssego, salame de chocolate
e limão com manjericão. Topping de chocolate.
Nas calorias eu penso depois!


Falar demais!

Eles nem precisavam falar e nós percebíamos perfeitamente o que eles queriam dizer.



Let's be "happy together"



"Juntando as conversas, constantes, de crise e de que tudo vai mal, um dia resolvemos pôr mãos à obra e tentar. Não temos nada a perder". A Raquel e o Zacarias acreditaram que podiam ser e fazer pessoas felizes. Como?  Fazendo a coisa mais simples que há. Eles fazem as pessoas sorrir e captam esse sorriso através das objectivas. Depois constroem um filme onde todos os sorrisos fazem com que as pessoas sejam felizes. Dar alegria a alguém, afinal, não é tão fácil?

Não são aqueles filmes iguais aos dos casamentos, não. A ideia é fazer um filme sobre qualquer coisa que seja digna de ser memorável. Até pode ser um filme do animal de estimação, de um piquenique na praia, de um aniversário."Queremos apenas registar o momento e depois construir um "happy film". Não queremos poses ou encenações, tudo ao natural é mais bonito e quando as pessoas estão realmente felizes não precisam de fingir", explica Raquel.

Portanto, não é preciso o sorriso trinta três para ter uma recordação bonita. Basta deixar a Raquel e o Zacarias andarem lá pelo meio que eles tratam estar com atenção no momento certo. Normalmente é o Zacarias que trata da parte do filme e da pós produção. A Raquel vai ajudando nesse processo e faz toda a parte de comercial e de comunicação de que o projecto necessita, agora que está no início. Juntos, criaram a "Happy Together - films about you", nome baseado na música dos Turtles "So happy together".

Fotos cedidas pela Happy Together
A ideia surgiu quando ele lhe mostrou um projecto idêntico de uma empresa americana. Pensaram em transformar a ideia de acordo com as pessoas e mercado português. Mas deixaram a ideia arrefecer, até que soltaram o tal grito, aqueles que nos desbloqueia em situações destas "afinal, por que não?!" Ambos, têm óptimos exemplos. O pai do Zacarias sempre foi super activo e empreendedor e o da Raquel está desempregado, mas nunca perdeu a vontade de vencer e tem sempre mil amigos à volta. Como poderiam eles não tentar, não acreditar? "São estas coisas que nos inspiram e nos fazem querer fazer filmes de deixar a lágrima no canto do olho...mas de felicidade", conta Raquel.

O projecto deles funciona em casa. Ainda precisa de muitos contornos para se tornar naquilo que eles sonham. Ainda está a começar, mas eles estão a tentar contornar a difícil crise que muitos gostam de apregoar, eles estão a fugir à tristeza que tanto tem vindo a manchar a vida dos portugueses, eles estão a tentar a sua sorte cá dentro do seu país. "Queremos fazer dinheiro com isto e penso que há espaço. Quando ouço que as coisas estão muito mal penso: para mim nunca estiveram muito bem, sempre tive de trabalhar para ter e fazer as minhas coisas, por isso para mim está igual." Mas pode mudar, porque eles ousaram tentar a sorte. E como, no fundo, todos nós desejamos um bocadinho do mesmo...vamos ser "happy together"!

A máquina e eu

Odeio máquinas com a mania que mandam mais do que eu. Por que é que teimam em ter mais razão do eu? Se eu digo que uma coisa é assim, naquele lugar, daquela maneira, então é porque é. Os computadores, por exemplo, por que é que teimam em dizer que não, que não é possível... e vêm com avisos estúpidos, enfiados numa janela que não fecha enquanto eu não fizer o que eles querem? E outras vezes nem perguntam nada, fazem as coisas como bem lhes apetece e está a andar.Crianças embirrantes e mimadas é o que são!
E às vezes a culpa nem é das máquinas (probrezinhas!), é do programa, é do sistema, seja do que for... mas isto aqui é como na escola, por causa de uns pagam os outros. E agora, vou reclamar com quem?
Desde quando é que se permite à máquina ser melhor que o Homem? 'Olhá' agora, hein?!


Espião contra espião em "Guerra é guerra"


Andei séculos a querer ver este filme e depois tudo acaba daquela forma?

Dois agentes secretos apaixonam-se pela mesma mulher, Lauren. Até aqui tudo bem mas eles são os melhores amigos e trabalham juntos em todos os casos. Quando descobrem a proeza que conseguiram fazer, decidem que seja ela a escolher com quem quer ficar, sem lhe contar. Mas ser agente teria de servir para alguma coisa. Eles podem vigiar 24horas o que ela faz... quando está com o outro, e isso é a mais valia deste filme. É daqui que resultam as gargalhadas... dos truques que eles usam para saber o que o outro anda a fazer e melhor, tentar impedi-lo. Fora isso, sempre pensei que ela não fosse ficar com nenhum, ou que acabasse por ficar com os dois, mas digo já que não. Ela escolhe mesmo. 

A exclusão



"Ia mesmo bem uma cerveja agora." - E é isto todos os dias. Não é só nas saídas à noite nem ao jantar, é durante todo o santo dia. Uma cervejinha agora ia mesmo bem. Ia bem ao fim da tarde na esplanada.  Ia bem a ver o jogo da selecção (ou do Benfica!). Ia bem a seguir ao café. Ia bem com os caracóis. Com tremoços ou amendoins. Ia bem depois de almoço, ia bem à tarde e ia bem à noite. E é barata, é sempre a bebida mais barata. Quando o empregado diz "o que é que vai ser" são logo meia dúzia de cervejas para a mesa do fundo. Ninguém pensa, ninguém vê a carta!

Pois ia mesmo bem mas sabe-me mesmo mal.  Eu não gosto de cerveja. E, pronto, agora, todas as almas estão em choque!
E eles dizem "Tens que te habituar". E eu não percebo muito bem porque é que me devo habituar a uma coisa que não gosto. Ainda por cima dá vontade de ir à casa da banho vezes infinitas. Prefiro continuar a ficar excluída da sociedade enquanto mantenho a minha identidade e peço uma coisa diferente do resto do mundo. Lamento não me juntar ao povo humilde que bebe cerveja. Prefiro ser, repito, excluída enquanto bebo a minha sangria branca com frutos vermelhos ou a minha caipirinha de final de tarde. Ou outra coisa qualquer que me queiram dar desde que não tenha sabor de cevada deslavada. 


Mas o que é que eu bebo com os caracóis? (O verdadeiro problema/questão/drama/horror da humanidade) Não é cerveja e continuo a ser feliz. Que estranho! Agora que me assumi publicamente podemos continuar a ser todos amigos ou será que já não me vão convidar para os jantares com bebidas à descrição?

Fim de roteiro, 'inchallá'

Marrocos, 17 Junho 2011
Dia 7 # Zagora – Ouazazarte – Marraquexe


Eu vou, eu vou pelas montanhas eu vou… Viagem de regresso a Ouarzazate e daqui para Marraquexe. A aventura estava quase a acabar e neste dia não há mesmo nada que deva acrescentar senão começo a ficar enjoada das curvas outra vez!

Marrocos, 18 Junho 2011
Dia 8 # Marraquexe – Porto – Lisboa


O último dia foi para fazer umas comprinhas de última hora. Sei lá...ervas para fazer um chá quando chegássemos a casa, por exemplo. "Comprinhas" foi, de resto, uma actividade bastante apreciada nesta viagem. Nunca consegui mostrar aqui fotos decentes do comércio, de como as coisas estão à venda das ruas porque eles pedem-nos dinheiro sempre que temos a máquina mesmo apontada, sendo que acabava sempre por ir um de nós fazer uma pose num sítio qualquer para mostrar que vimos uma cobra amestrada ou um macaco às cavalitas.

Já depois de almoço mantivemo-nos no hotel e tivemos um último contacto com o senhor que lá trabalhava que nos falou durante algumas horas sobre a vida deles.Os ordenados, as casas, os trabalhos, os turistas… e ele questionou também sobre Portugal.
Chegámos ao Porto já tarde e esfomeados. Depois de sete dias a comer aquelas coisas a francesinha teve mesmo o papel principal…

É tempo de reflexão. Para ver uma cultura absolutamente diferente é o ideal e é bom para enriquecer aquilo que concebemos sobre o mundo. Gostei de ver as ruas, a arquitectura dos edifícios. As roupas. As coisas a que a eles dão valor. As coisas que não lhes dizem nada. O ambiente. A Língua. Os cheiros, as cores, os sabores. A diversidade, a confusão, o caos. O medo. A diversão. Não se vê nada assim aqui. Há pessoas boas e más em todo o lado, mas isso eu já sabia. Sofri um choque cultural mas acho que era essa a ideia.

                 *** 


Hotéis onde ficar:
* Hotel Central Palace - mesmo no centro de Marraquexe, a 50 metros da Praça Jemma El Fna. Ficámos em dois do mesmo grupo no início e no fim da estadia (1ª e 5ª imagem)
* Al Khansaa, hotel salon de thé art galerie - Essaouira. É realmente uma galeria de arte com peças à venda e tudo. Super bonito, confortável, arrumado e limpo. (2ª e 3ª imagem)
* Hotel Azoul -  Em Ouarzazate é central, bem apresentado, arrumado, bonita vista. (4ªimagem)
* Hotel la Palmeraie - em Zagora, foi o pior dos hotéis por motivos de higiene mas... tem piscina.

Sítios a visitar:
* Em Marraquexe: Jardins Majorelle,Palácio El Bahia, Souk (mercado da cidade), praça Djema-El-Fna.
* Em Essaouira: praia, lota (a não perder o peixe, que é óptimo), mercado da cidade.
* Em Ouarzazate: Ait Ben Haddou, estúdios cinematográficos e centro da cidade.





E depois, apenas, o deserto

Marrocos, 16 Junho 2011
Dia 6 # Ouarzazate -  Zagora

O nosso carro alugado mega fashion nunca precisava de gasolina. Por mais km que andássemos o ponteiro nunca saia do lugar, o que não era realmente bom para quem queria ir até o deserto, mas ok, vamos andando que se faz tarde. 

Três horas de Ouarzazate até Zagora, a última cidade assim mais ou menos habitada antes das portas do deserto. Foram três horas entre montanhas (onde é que eu já vi este filme) e quando lá chegamos era outra aldeia perdida no tempo onde os termómetros marcavam 53 graus.

Não era possível ir ao deserto com o nosso carrito… Não! Oh a sério? Ainda tínhamos uma ínfima esperança! Um guia, um jipe e uma viagem baratinha foi o que conseguimos arranjar assim em tempo record numa conversa do tipo “Tenho um amigo de um amigo que pode ir convosco”. Boa, boa, bora lá viajar até ao deserto dentro de um jipe com um desconhecido (dejavú? Again?). E fomos.

A hora melhor para ir ao deserto do Saara era ao final da tarde, altura em que podíamos ver o pôr do sol e tirar aquelas fotos dos postais. Pelo caminho, o guia disse-nos que íamos parar numa aldeia para conhecer e que era costume lá parar na travessia de zagora até ao Saara. Tudo incluído no preço. Nesta aldeia havia uma antiga biblioteca, casas antigas, crianças a fabricar os artigos que víamos à venda da cidade e a pedirem-nos moedas ou mesmo comida, claramente carenciadas. Crianças são crianças e tocam-nos sempre. Mas ao guia desta cidade nada quisemos pagar porque nos havia sido dito que não o teríamos de fazer. Confrontámos delicadamente o nosso guia e condutor que falou com o outro senhor. Não terá gostado muito pois prosseguiu viagem connosco meio aborrecido.

Quando começamos a sentir as dunas por baixo das rodas do imenso jipe percebemos que estávamos perto. E o que estava à nossa frente era o absoluto. A calma. O silêncio. A vista. O nada. Não há nada depois daquilo. Podemos andar km e tudo que se vê é igual para frente e para trás e o este e o oeste, e é apaixonante. A areia brilha ao pôr do sol. É das imagens mais bonitas de tão simples que é. É majestoso tomar um chá numa mesa pequena sentados num tapete que não se pode pisar calçado. Simplesmente sentir aquele ar. E aproveitar o nada.

O passeio de dromedário é cena de filme. Tive muito medo, e aqui confesso, de subir para lá para cima. De olhar para o animal...e ele a olhar para mim! Tive tanto medo que nem consegui aproveitar bem. Dos poucos momentos em que me abstrai, olhei em frente e senti a brisa quente.





Na viagem de regresso para Zagora já era noite cerrada. Como saberia o guia o trilho certo por entre as dunas para nos tirar dali? “Inchallá”, respondeu-nos. (Que seja o que Deus quiser). Aprofundando conhecimentos da cultura marroquina durante a trip, esclarecemos que os marroquinos podem ter mais que uma mulher e elas podem muito bem conviver alegremente mas poucos optam por esta prática, porque sai caro, pois tudo o que se oferece a uma tem que se oferecer a outra.

Parámos para ver a lua que dali parecia ser diferente. Era grande. Era brilhante. Pequeno piquenique para turistas esfomeados. Ofereceu-nos meloa que nos soube pela vida e nos fez apreciar a companhia e simpatia deste guia que afinal não era tão mau quando parecia.
E depois, uma súbita luz no céu fez-nos ceder à curiosidade. Estava longe. Só mais perto da cidade entendemos que eram relâmpagos e que estava prestes a desencadear-se uma tempestade tropical com mais de 40 graus às dez das noite.

Ainda houve tempo para perceber que promessa é uma coisa que vale muito para os marroquinos. Nunca mais nos lembramos que para evitar ir a mais uma loja durante a tarde dissemos o célebre “después”…. É um ofensa muito pior não cumprir uma promessa do que entrar e não comprar… porque “se queres, queres…se não queres, não queres”, diziam eles.

Cinema em Marrocos


Marrocos, 15 Junho 2011
Dia 5 # Ouazazate

Uma das formas mais eficazes para cumprir pequenas distâncias é utilizar um táxi, ah e negociar o preço, claro. “É para Ait-Ben Haddou”.

Ait-Ben Haddou é uma cidade do outro lado do rio. É uma cidade isolada de tudo e é algo diferente, no meu imaginário, quando lá cheguei,e agora que recordo, pareceu-me feita à mão, moldada a barro, é linda e é património da Unesco.
Estávamos debaixo de um calor abrasador que nem se podia aguentar. Um aldeão até nos emprestou uns chapéus para proteger a cabeça, directamente vindos da sua loja, onde aliás nos ‘estragamos’ nas compras, as coisas eram mesmo giras, gostei das lojas de lá!
Giro, giro é subir todos os degraus até ao topo e ir olhando para a paisagem que fica lá em baixo mesmo atrás de nós. Digno de filme, de tela, de fotografia e mais que tudo isto, digno de recordar.

Devolvemos o chapéu ao senhor que simpaticamente acreditou que o desenvolveríamos. E fomos ‘perseguidos’ por um outro senhor que insistia que comprássemos uma pulseira. Eu gostei dela mas eram oito euros… a cada passo que andava atrás de nós a pulseira baixava de preço… óbvio que continuei a andar… dois euros, comprado!

Voltámos ao centro da cidade de Ouarzazate (já depois de o táxi ter de levar um banho de água porque aqueceu demais debaixo daquele calor) onde alugamos um carro. É que queríamos ir até ao deserto do Saara, mas as expedições eram muito caras para aquilo que nos apetecia pagar, e as cabeças pensadoras acharam que podiam ir de carro até lá!

Com o nosso carrinho ainda tínhamos muitos sítios a visitar nessa tarde. Começámos pela cidade cinematográfica. Sim, há o brilho e glamour do cinema em Marrocos. Aqui já foram gravados filmes como o Gladiador ou Alexandre, o Príncipe da Pérsia. Hoje restam pedaços dos adereços que fizeram cenários a estes filmes. E podemos ser nós os protagonistas. “Luzes, câmara, acção”.


Uma das coisas que mais se quer ver quando se viaja para estes países são os oásis. Já todos ouvimos falar deles e queremos ver como é. A nossa concepção da coisa atraiçoa-nos. Sempre que, andando mais um km ou dois no meio do nada, sem indicações, qualquer coisa que tenha um lago e duas ou três palmeiras nos parece um lindo oásis. Mas não. Lá de cima, olhando para baixo, descobrimos um uma aldeiazinha no meio do nada, cercada de palmeiras, como que desenhadas. Estávamos já a vê-lo quando nos surgem na estrada algumas pessoas que pedem para parar. Queriam água para o carro. Aproveitámos e confirmámos com eles que aquilo ali era o Oásis de Fint (não fosse uma miragem ou assim!)


                                                             
Mesmo quase a chegar vemos uma pessoa a descer a montanha a correr seguindo o nosso carro. É uma das pessoas que estava lá em cima com quem falámos. Vai começar tudo outra vez!!!  Chegou a correr, ofegante, a dizer que nos ia mostrar o Oásis. Ahh, que alegria! Mas, não foi mau de todo. Pronto, eu admito, levei o caminho todo a achar que ele nos ia pedir dinheiro pela visita guiada, e não me consegui abstrair do facto de ir connosco para todo o lado para que nos virávamos. Mas por outro lado, o óasis é um belo sítio para nos perdemos e ele ia dizendo os sítios mais bonitos que nem todos os turistas conseguiam alcançar. Ele morava ali. Vivia ali. No óasis. Ali não há nada. Onde arranjam a comida? A água? O que fazem para ter dinheiro? Para sobreviver? Como é que vão à escola? Onde arranjam roupa? Aquilo é deserto e até à cidade leva muito tempo de carro quanto mais a pé. Sinto um enorme respeito por estas pessoas, afinal. E depois, oferece-nos uma fruta vinda directamente da árvore (que eu não comi) e um desenho que fez com as mãos, com uma folha de uma árvore e pergunta se podemos dar algum dinheiro. E demos.

Ok, viagem de regresso. Jantar, chazinho da noite e cama.

A paisagem de "Private Practice"


Já há muito tempo que queria ter escrito sobre "Private practice", mas estou a ver uma temporada tão atrasada que até tenho vergonha. Basicamente estou no início da quarta (mas já vi episódios para a frente que isto quem tem Fox tem tudo e não sou pessoa de me conter se começa a dar o episódio, não é? Não vou desligar sem ver! :)
Pronto, entretanto, estão todos de candeias às avessas, andam todos enrolados uns com os outros (bom, mas isto é o prato principal de todas as temporadas ou melhor, de todas as séries género) e depois chateiam-se e fazem as pazes como se a série acabasse amanhã. Esta série vale a pena pelo enredo entre os médicos mas não tem nada a ver com a minha adorada Anatomia.

A addison tem me vindo a conquistar episódio a episódio. De facto ela foi uma besta com o Derek (querido!) e depois foi novamente do pior mais uma série de vezes de modo que nunca fui muito fã, mas estou a aprender a gostar dela, afinal de contas nada lhe corre bem na vida, tem um azar dos diabos no amor, o raio da mulher!

Nesta série não é nem a Naomi, nem Sam, nem o Peter que me cativam... Gosto muito mais do Dell (que entretanto já morreu) da Violet, do humor do Cooper e do seu relacionamento com a Charlotte, que é das melhores personagens.

Mas o melhor, o melhor, o bom mesmo, aquilo que me deixa a babar... é a casa da Addison. Meu deus, aquele mar à porta... aqueles finais de tarde a ver o sol em Los Angeles a beber um vinho (como ela passa a vida a fazer) é o paraíso na terra.

Depois de um fim-de-semana...

... com vista para o mar e calor, boa disposição e boa companhia, ainda não conseguir decidir se a segunda-feira custa muito ou pouco.
Deixa-me pensar...hum, já pensei. Acho que já sei a resposta!
Toda a gente sabe não é?



Caminhos no meio de marroquinos

Marrocos, 14 Junho 2011
Dia 4 # Essaouira – Marraquexe – Ouazazate


Terra e mais terra. Estrada e mais estrada. Rodas, movimento, calor. Curvas, muitas curvas. O quarto dia foi passado inteiramente em viagem de um lado para o outro. Ninguém merece!
Estava previsto no nosso roteiro de viagem ficar mais um dia em Essaouira mas estava um frio que não se podia e eu queria mais era viver os meus 40 graus à sombra! Foram 3 horas de volta a Marraquexe e mais 5 até Ouazazate. Parece fácil, um dia tranquilo, dormir no autocarro… pois, mas não foi! Bora lá subir uma montanha gigante em curvas e em curvas fazer ultrapassagens de dois em dois minutos para fazer destes turistas pessoas mais felizes. A sério? Um autocarro enorme a fazer ultrapassagens numa única faixa de rodagem, numa curva e a subir?!                          

E se ficasse por aqui estava eu contente da vida. A paragem para esticar as pernas foi numa aldeia perdida no tempo e no meio da montanha. Os aldeões juntam-se todos quando o autocarro pára. Mas… surpresa… até tem “estação de serviço”. Eu explico: tem um café que serve comida e chá e uma casinha pequena para a venda de recordações. É óbvio que fomos convidados a entrar e a pernoitar e a viver ali! Conversa puxa conversa e o senhor da loja disse-nos que tinha um irmão a viver na cidade para a qual íamos que fazia excursões ao deserto…nós até gostávamos de ir.

Quando saí daquela pequena aldeia senti que algumas daquelas pessoas eram mesmo humildes e passavam dificuldades. No fundo, só conhecem aquilo. Vivem ali, limitam-se a fazer trabalhos manuais para vender. Colhem pedras das montanhas que depois limpam e vendem. Vivem ali à espera que um turista passe. Dizem que não lhes falta nada, que viver ali é tranquilo. Acredito que sejam boas pessoas. Pedem para entrarmos, para vermos. Mostram. Explicam. E depois não compramos nada? Acabámos por comprar pequenas coisas e fizemos uma pessoa feliz.

Quando chegamos a Ouazazate, imediamente assim que saímos do autocarro estavam duas pessoas à nossa espera, dizendo que nos levavam ao hotel no seu jipe. Já dentro do carro dos senhores exclamei “Lá estamos nós a seguir desconhecidos, outra vez. Dentro do carro deles e fechados!” 
Não nos levaram ao hotel. Levaram-nos à rua onde ficava a sua agência que organiza excursões ao deserto porque sabiam que gostávamos de ir. Como? Um dos senhores era o tal irmão do outro querido de quem ficámos amigos, na aldeia lá atrás. SÓ queriam que entrássemos, que bebêssemos chá e que víssemos o que tinham para oferecer. Pois, sim. O combinado era irmos para o hotel não para uma loja comprar pacotes de visitas guiadas ao deserto do Saara. Não entramos e eles ficaram fulos da vida. Queriam saber o hotel onde íamos ficar, queriam ir buscar-nos. Fizeram-nos prometer que os visitávamos a uma certa hora e ficariam à espera. Ainda não sabíamos o valor da promessa para o povo marroquino portanto… faltámos ao encontro.
O hotel era óptimo e depois de verificarmos que não estávamos a ser seguidos fomos jantar. Ouazazate é uma cidade pequena, com um clima muito mais quente do que nas cidades anteriores. É acolhedora, tem menos comércio do que o normal e menos turistas também.
                                                                         
Encontrámos um restaurante e nele conhecemos dois músicos que sobre Portugal não mencionaram o futebol mas sim… Amália Rodrigues. Não eram marroquinos. Jantamos ao som de uma guitarra e aproveitamos para pedir uma informação. Resultado? Perguntámos onde poderíamos ir a um bar típico marroquino, como vemos aqui em Lisboa. Mas lá não esse hábito de nos sentarmos nuns sofás e beber chás!. Para eles isso faz-se em casa. Às tantas lá estávamos nós com os tais senhores num bar, onde um deles costumava tocar, e tivemos uma noite descontraída a falar com eles, a conhecê-los. Nós a querer saber da vida em Marrocos e eles a querem saber da vida em Portugal. Esta foi uma das situações que nos correu bem. Já sabíamos que não íamos poder escapar ao facto de eles nos acompanharem a qualquer sítio no entanto, foram autênticos guias. Uma forma de percebermos que há pessoas e pessoas... e estas fizeram-nos crer que há boa gente.