E depois, apenas, o deserto

Marrocos, 16 Junho 2011
Dia 6 # Ouarzazate -  Zagora

O nosso carro alugado mega fashion nunca precisava de gasolina. Por mais km que andássemos o ponteiro nunca saia do lugar, o que não era realmente bom para quem queria ir até o deserto, mas ok, vamos andando que se faz tarde. 

Três horas de Ouarzazate até Zagora, a última cidade assim mais ou menos habitada antes das portas do deserto. Foram três horas entre montanhas (onde é que eu já vi este filme) e quando lá chegamos era outra aldeia perdida no tempo onde os termómetros marcavam 53 graus.

Não era possível ir ao deserto com o nosso carrito… Não! Oh a sério? Ainda tínhamos uma ínfima esperança! Um guia, um jipe e uma viagem baratinha foi o que conseguimos arranjar assim em tempo record numa conversa do tipo “Tenho um amigo de um amigo que pode ir convosco”. Boa, boa, bora lá viajar até ao deserto dentro de um jipe com um desconhecido (dejavú? Again?). E fomos.

A hora melhor para ir ao deserto do Saara era ao final da tarde, altura em que podíamos ver o pôr do sol e tirar aquelas fotos dos postais. Pelo caminho, o guia disse-nos que íamos parar numa aldeia para conhecer e que era costume lá parar na travessia de zagora até ao Saara. Tudo incluído no preço. Nesta aldeia havia uma antiga biblioteca, casas antigas, crianças a fabricar os artigos que víamos à venda da cidade e a pedirem-nos moedas ou mesmo comida, claramente carenciadas. Crianças são crianças e tocam-nos sempre. Mas ao guia desta cidade nada quisemos pagar porque nos havia sido dito que não o teríamos de fazer. Confrontámos delicadamente o nosso guia e condutor que falou com o outro senhor. Não terá gostado muito pois prosseguiu viagem connosco meio aborrecido.

Quando começamos a sentir as dunas por baixo das rodas do imenso jipe percebemos que estávamos perto. E o que estava à nossa frente era o absoluto. A calma. O silêncio. A vista. O nada. Não há nada depois daquilo. Podemos andar km e tudo que se vê é igual para frente e para trás e o este e o oeste, e é apaixonante. A areia brilha ao pôr do sol. É das imagens mais bonitas de tão simples que é. É majestoso tomar um chá numa mesa pequena sentados num tapete que não se pode pisar calçado. Simplesmente sentir aquele ar. E aproveitar o nada.

O passeio de dromedário é cena de filme. Tive muito medo, e aqui confesso, de subir para lá para cima. De olhar para o animal...e ele a olhar para mim! Tive tanto medo que nem consegui aproveitar bem. Dos poucos momentos em que me abstrai, olhei em frente e senti a brisa quente.





Na viagem de regresso para Zagora já era noite cerrada. Como saberia o guia o trilho certo por entre as dunas para nos tirar dali? “Inchallá”, respondeu-nos. (Que seja o que Deus quiser). Aprofundando conhecimentos da cultura marroquina durante a trip, esclarecemos que os marroquinos podem ter mais que uma mulher e elas podem muito bem conviver alegremente mas poucos optam por esta prática, porque sai caro, pois tudo o que se oferece a uma tem que se oferecer a outra.

Parámos para ver a lua que dali parecia ser diferente. Era grande. Era brilhante. Pequeno piquenique para turistas esfomeados. Ofereceu-nos meloa que nos soube pela vida e nos fez apreciar a companhia e simpatia deste guia que afinal não era tão mau quando parecia.
E depois, uma súbita luz no céu fez-nos ceder à curiosidade. Estava longe. Só mais perto da cidade entendemos que eram relâmpagos e que estava prestes a desencadear-se uma tempestade tropical com mais de 40 graus às dez das noite.

Ainda houve tempo para perceber que promessa é uma coisa que vale muito para os marroquinos. Nunca mais nos lembramos que para evitar ir a mais uma loja durante a tarde dissemos o célebre “después”…. É um ofensa muito pior não cumprir uma promessa do que entrar e não comprar… porque “se queres, queres…se não queres, não queres”, diziam eles.

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