- Creio que sim…Mas todo o mundo mais ou
menos a falha. Isto é, falha-se sempre na realidade aquela vida que se planeou
com imaginação”
Adoro esta frase que aparece no final de "Os Maias". Para o bem ou para o mal ela diz muito.
São três gerações perdidas, tristes, amarguradas, perseguidas pelo fracasso. Pedro da Maia é pai de Carlos Eduardo e matou-se quando a mulher o
abandonou e levou consigo a filha, Maria Eduarda. Carlos fica a cargo do avô e
anos mais tarde encontra o amor da sua vida… O romance incestuoso com Maria Eduarda
vai conduzir Carlos ao fracasso…
“Maria Eduarda! Era a primeira vez que
Carlos ouvia o nome dela; e pareceu-lhe perfeito, condizendo bem com a sua
beleza serena. Maria Eduarda, Carlos Eduardo… Havia uma similitude nos seus
nomes. Quem sabe se não pressagiava a concordância dos seus destinos!”
Em
plena época oitocentista a sociedade portuguesa rende-se a uma modelo burguês
de boas aparências. Da imitação daquilo que vem do exterior. Os portugueses
querem ser uma sociedade que não são. Mas falta-lhes meios educacionais e mesmo
morais para o ser. Escondem-se numa educação que não sabem dar, numa economia
que fingem estar no auge, num sistema político que não funciona…
“ Carlos não entendia muito de finanças
mas parecia-lhe que desse modo o pais ia alegremente e lindamente para a bancarrota”
Vários são os episódios que revelam uma
sociedade derrotada. Os políticos são mesquinhos e corruptos, os homens de
letras boémios e despreocupados, os jornalistas deixam-se corromper a favor de
causas pelo dinheiro, as mulheres representam o pecado e a luxúria e os eventos
sociais são uma farsa, muitos acabam mesmo numa troca de insultos banais ou em “pancadaria”
… um ridículo de situação que não se coaduna com uma sociedade que pretende
mostrar-se culta e nobre.
Foi no ano de 1888 que
Eça lançou esta crítica social, depois de ter analisado a
sociedade pormenorizadamente durante oito anos. No final, a obra conduz ao ciclo do qual o próprio Eça fez
parte, os falhados da vida.
E hoje? Hoje o que diria Eça da sociedade em que vivemos que ele não viu, mas previu?
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