“- Acho que o importante é fazer alguma diferença – disse ela. – Mudar realmente alguma coisa, percebes?
- O quê, tipo “mudar o mundo”, é isso?
- Não o mundo inteiro! Só aquele
bocadinho à tua volta.”
(Nicholls, 2009, pp.11)
Emma e Dexter eram amigos. Eram meio
namorados. Eram, bem, depois de terminar o “Um dia” de David Nicholls, e de ver o filme também, percebi
que eles eram mais que apaixonados, eram os melhores
amigos. Eles conhecem-se e apaixonam-se, ainda que sem saberem, em 1988, e só
voltam a estar juntos como casal longos anos depois. Durante os
vinte anos que separam estas datas, e que as páginas retratam, eles apenas se
encontram, conversam, trocam confidencias, sentem falta um do outro, são os
melhores amigos. A Em e o Dex, o Dex e a Em.
Não percebi, no início, a ideia, o
fundamento, o porquê da história se desenrolar sempre no mesmo dia de anos diferentes. Passava sempre um ano, e mais um e mais um. Pensei que se perdia a essência, que quando eu queria realmente
saber uma coisa, quando tinha entrado no centro da história, simplesmente o dia
15 de Julho acabava e passava para o mesmo dia do ano seguinte. (Este andamento torna-se bastante mais atractivo em formato filme.) Mas tudo acaba
por se justificar, mais tarde ou mais cedo, tudo se percebe e gostei,
afinal. Tinha mesmo que ser assim.
Fui com eles de viagem a várias cidades europeias. Fui com as inseguranças e incertezas destes dois jovens (de
meia-idade). Fui com eles nas suas tristes histórias de desamor e de tristeza,
de compaixão e culpa. Fui com eles na depressão e na fuga à realidade. Fui com eles nas quedas, na perda do sucesso. Entrei nas
brincadeiras, nos sarcasmos, nas ironias, nos sorrisos, na volta e reviravolta
das irregularidade da vida.
“- Dexter, eu amo-te tanto. Tanto, tanto
e provavelmente sempre hei-de amar. Os lábios dela tocaram-lhe a face. – Só que
já não gosto mais de ti, lamento.”
(Nicholls, 2009, p.225)
E no final, percebo que não
podemos esperar. Que a vida não chega, de facto. Foi esta a mensagem mais
importante que o David Nicholls me passou enquanto o li. São vinte
anos que passam na vida destas personagens que vão envelhecendo, que vão mudando, que vão aprendendo. A vida é muito efémera, tem muito pouco tempo. E o que passou,
passou. O tempo é este, é aqui e agora. Porque depois não há amanhã.
“Já não havia mais manhãs. Só havia as
manhãs seguintes”
(Nicholls, 2009, 202)
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